Porque as ações do Pão de Açúcar estão caindo?
O GPA, grupo dono da rede Pão de Açúcar, em teleconferência com analistas nesta manhã de quinta-feira (22), disse que a melhora do resultado final da empresa reflete o processo de “turnaround” (reestruturação) do grupo. E o ano de 2024 deve ser um período de aceleração dos ganhos verificados em 2023, disse Marcelo Pimentel, CEO do grupo.
Mas a tese pareceu pouco persuasiva a investidores, que ainda digerem os resultados do quarto trimestre, reportados ontem. O GPA registrou prejuízo líquido consolidado atribuído aos controladores de R$ 303 milhões entre outubro e dezembro 2023, queda de 72,5% em relação ao prejuízo líquido de R$ 1,10 bilhão do quarto trimestre de 2022.
O resultado trouxe avanços em termos de rentabilidade, de acordo com analistas, e pode indicar tendências positivas para os próximos trimestres, mas a foto ainda é de um caixa muito pressionado pelas contingências. A ação de GPA caiu 6,79%, aos R$ 3,98, liderando as baixas do Ibovespa hoje.
O prejuízo líquido dos controladores foi de R$ 87 milhões no quarto trimestre, versus uma perda maior, de R$ 272 milhões um ano antes. Isso se refere ao GPA Brasil, logo desconta as operações que estão sendo vendidas pela empresa.
“A ideia é ser fiel ao plano iniciado em 2022 e levar isso a 2024. O ano de 2023 foi início de colher resultados, mas temos que continuar porque não chegamos ao potencial que queremos chegar”, disse Pimentel.
Ele citou trabalhos em gestão de categoria na rede Pão de Açúcar, iniciado em 2023, e isso está se espalhando para as marcas de lojas de proximidade. Ainda diz que consolidou em 100% das lojas a operação de venda e entrega de produtos a partir do estoque das lojas. “Sobre rentabilidade já entramos em 2024 melhor posicionados do que estávamos em 2023, e mantemos ‘guidance’ publicado”, disse.
“Janeiro foi bastante forte e temos presença forte no litoral paulista o que nos coloca em situação positiva. Estamos extremamente otimistas para 2024”.
A companhia foi questionada pela desaceleração no indicador de vendas mesmas lojas do Pão de Açúcar. Pimentel disse que isso reflete deflação maior de categorias em que a rede é forte, e não vê arrefecimento, considerando que o trimestre anterior de 2022 tem base forte.
O GPA ainda disse que a ruptura em lojas caiu 3,2 pontos percentuais no trimestre — esse ponto era um foco da reestruturação — e que a venda on-line tem o maior aumento dos últimos seis trimestres.
O grupo abriu 61 lojas em 2023 — 56 foram lojas de proximidade e 5 foram Pão de Açúcar.
XP
Os resultados do GPA foram mistos no quarto trimestre, com desempenho de vendas em linha e melhoria na rentabilidade, enquanto o prejuízo permanece pressionado pela alta alavancagem e contingências, diz a XP.
Os analistas da XP escrevem que a expansão na margem bruta foi o destaque, apoiada no crescimento de 7% nas receitas, melhores condições comerciais, redução da quebra de produtos e menores custos logísticos.
O que está acontecendo com o Pão de Açúcar?
O Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), registrou um prejuízo líquido consolidado de R$ 1,295 bilhão no terceiro trimestre de 2023, um valor quase quatro vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2022. O número inclui o resultado das operações descontinuadas, principalmente dos hipermercados e o Grupo Éxito.
Sem o Éxito, a empresa teve um lucro líquido consolidado de R$ 809 milhões, revertendo prejuízo de R$ 229 milhões do terceiro trimestre do ano passado. A respeito da diferença no lucro líquido continuado, a empresa afirma que ele foi impactado por efeito não caixa pela reversão do provisionamento de R$ 804 milhões de prejuízos acumulados do perímetro internacional (Cnova).
Se excluído esse efeito, o lucro líquido continuado seria de R$ 5 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado consolidado foi de R$ 1,137 bilhão, uma alta de 478% em relação a um ano antes. Se contar apenas a operação do Novo GPA Brasil e excluir impactos do Cnova, o Ebitda é de R$ 333 milhões, alta anual de 32,1%.
Já a receita líquida cresceu 9,7% ante o terceiro trimestre de 2022 e fechou em R$ 4,742 bilhões. As margens da companhia aumentaram. A margem bruta cresceu 1,3 ponto porcentual (pp), para 25,1%. Já a margem Ebitda ajustada consolidada teve alta de 19,4 pp, para 24,0% e a margem Ebitda somente do GPA Brasil foi de 7%, uma alta de 1,2 pp.
Na bandeira Pão de Açúcar, as vendas mesmas lojas (SSS) subiram 7,2% ante o terceiro trimestre de 2022. Segundo o GPA, o crescimento foi impulsionado pelo volume, já que houve forte deflação em alguns itens alimentares. A categoria de perecíveis foi o destaque, especialmente pela venda de frutas, verduras, legumes e açougue.
No formato de Proximidade, houve crescimento de 7,7%, impulsionado pela boa performance das novas lojas. Na bandeira Extra Mercado, também houve crescimento de vendas mesmas lojas de 2,5%. No início de agosto, a empresa concluiu as conversões das lojas das bandeiras Compre Bem para Extra Mercado.
Neste trimestre, a empresa disse já ter observado uma recuperação da rentabilidade das lojas convertidas, com baixo investimento e apoio dos principais fornecedores. A dívida líquida atingiu R$ 3 bilhões, uma redução de R$ 500 milhões em comparação com o ano anterior, com diminuição de 0,5 vez da alavancagem.
A posição de caixa no fim do trimestre foi de R$ 3 bilhões, correspondente a 2,1 vezes a dívida de curto prazo da empresa. A empresa ainda inaugurou 20 lojas neste terceiro trimestre, das 49 abertas no ano. No quarto trimestre, a expectativa é abrir mais uma loja Pão de Açúcar, na cidade de Itu, em São Paulo.